Você se sentiria confortável se as pessoas, mesmo aquelas que você não conhece, soubesse o que você come todos os dias, que horas você dorme e acorda, onde você dormiu noite passada, o que você gosta de ler e assistir no seu momento de lazer, etc?

Você forneceria esses dados de maneira gratuita?

Provavelmente não. Mas, infelizmente, nós fazemos isso todos os dias e a todo o momento.

Vamos citar um exemplo: quando vamos dormir, o celular é capaz de perceber que o nível de bateria parou de cair e que você parou de ligar a tela nem que seja para ver a hora. Ele sabe que horas você parou de fazer isso e que horas começou novamente. Ele pode dizer, por meio da geolocalizações onde você dormiu na noite passada.

Pelos registros que ele coleta através dos algoritmos, é possível saber o seu gosto, pois sabe-se que você ficou mais tempo vendo aquela determinada foto ou vídeo no Instagram. Isso tudo sem que você tenha curtido, compartilhado ou comentado. O simples fato de você ter parado naquela foto, é interpretado pelo sistema como de interesse.

Essas ocorrências podem ter inúmeras utilidades desconhecidas, e uma delas é para que a empresas por trás dos aplicativos, sejam capazes capazes de definir o seu perfil econômico, social, psicológico, eleitoral, religioso, etc.

Por um momento podemos até pensar: “Mas o que que tem se souberem essas informações todas?”

Essas informações são fundamentais para que você receba notícias direcionadas para determinado sentido, por exemplo. Você compra produtos que não precisam e que você jura, até hoje, que são extremamente necessários. Você aceita dívidas que também não precisava, pois por meio dos algoritmos é possível saber que você estava devendo e pelo seu perfil psicológico, sociológico e econômico é uma pessoa vulnerável para aceitar determinados contratos bancários, por exemplo.

Além disso, vários são os impactos em nossas vidas individuais que sequer associamos a essas coletas de dados. Somos importunados diariamente com ligações oferecendo serviços, realizando cobranças etc. Muitas vezes são cobranças de amigos ou familiares, mas que é possível vincular a nós por meio dessas informações que são coletadas sem a nossa percepção.

É por isso que temos a frase, bastante conhecida e já é um clichê, de que os dados são o novo petróleo.

Tudo gira em torno da informação. Quanto mais conhecemos você, seu jeito, seus gostos, suas fraquezas, mais nós conseguimos vender, nos aproximar, fazer você acreditar em determinada matéria, até moldar pensamentos políticos, interesses e vontade de comprar coisas.

Parece teoria da conspiração, né?

Mas não é. E para provar que é algo que realmente acontece, cito o exemplo do Cambridge Analytica. Esse escândalo trouxe à tona a coleta de informações de quase 90 milhões de usuários do Facebook visando a influenciar as eleições presidenciais dos Estados Unidos, por exemplo.

Se você ainda não se convenceu que suas informações valem muito, inclusive para você, apresento outro exemplo: Sabe quando sua viagem no Uber custa muito mais caro por um trecho menor do que seu colega que também está pedindo Uber para uma viagem mais longa? Pois é… possivelmente porque você está quase ficando sem bateria. O aplicativo sabe disso e sabe que você não vai cancelar a viagem e procurar algo mais barato, pois você não tem tempo.

Isso tudo reflete direta ou indiretamente no seu dia a dia. Nos seus custos. Nas suas opiniões.

Não estamos falando apenas de compartilhamento de dados pessoais por meios virtuais, como aplicativos, sites na internet, etc.

Como você se sentiria se tivesse certeza absoluta que tudo que você conta para o seu médico, as pessoas da recepção também tenham acesso? Você retornaria nesse consultório? Falaria algo mais para o seu médico?

Com absoluta certeza que não, você não voltaria.

Pode parecer um pouco taxativa essa conclusão, mas não só pesquisas mostram sua veracidade, mas as novas leis. Aliás, é bem possível que você já tenha identificado alguns desses sintomas na prática.

Sabe a nova política de privacidade do WhatsApp, em que eles informam que nossos dados serão compartilhados com o Facebook (como nossa foto, números de telefone, até o modelo do aparelho)? Pois é… isso custou uma debandada de usuários para outros aplicativos como o Telegram e Signal. Em menos de 72 horas, foram 25 milhões de pessoas que abandonaram o WhatsApp.

Isso mostra uma evidente preocupação da população com seus dados. Aqueles que não migraram, talvez não tenham percebido essa nova política de privacidade ou não compreendeu os termos. Claro, alguns realmente não se importaram, mas isso tudo mostra que são a minoria.

Essa percepção é importantíssima para nós, que temos empresa, negócios e tratamos com o público em geral. Ou nós começamos a respeitar todos e valorizamos o valor dos dados pessoais como efetivamente dados de privacidade, ou iremos perder nossos clientes (sem contar em ações judiciais, perdas de negócios, etc).

POR QUE ADEQUAR MINHA EMPRESA À LGPD?

O que mais temos escutado por aí é que é preciso se adequar à LGPD para evitar ações judiciais ou multas de 2% do valor bruto anual da empresa, podendo chegar até 50 milhões de reais.

Esse é um discurso amedrontador. De fato, é importante evitar responder a um processo judicial e, sim, existe a previsão de multa de até 50 milhões de reais. Mas o motivo pelo qual nós temos que nos adequar à lei transcende tudo isso. É uma questão cultural e de respeito ao cliente. Mais do que isso: ela gera OPORTUNIDADE, VANTAGEM COMPETITIVA e evita o EFEITO CASCATA.

Vamos explicar.

A empresa que está adequada à LGPD cria oportunidades de negócios por ser reconhecida como uma empresa em compliance; traz vantagens competitivas, pois, enquanto os concorrentes estão correndo para se adaptar, a empresa que já está em conformidade pode oferecer seus serviços e produtos de forma mais adequada e eficiente (se for você o concorrente que está atrás da fila, é um sinal de alerta!); por fim, visa evitar o efeito cascata. Isso significa que as empresas que já estão adequadas passarão a fomentar negócios apenas com aquelas que também estejam em conformidade, sob pena de reponsabilidade solidária (ou seja, a responsabilidade “conjunta”, com todos os envolvidos).

Então, por mais que a sua empresa aparentemente não precise se adequar, como ficaria o seu negócio se não pudesse contar com seus parceiros de negócio?

A proteção de dados pessoais e da privacidade de clientes e colaboradores é fundamental para a construção de uma imagem de confiança, o que trará mais oportunidade, mais vantagem competitiva e assim a roda gira infinitamente.

Sabendo disso tudo, nos resta agora entender o que é a Lei Geral de Proteção de Dados, qual sua abrangência e como tornar nossa empresa adequada.

LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS

Diante dessa vulnerabilidade que mencionamos anteriormente e dos diversos escândalos envolvendo o assunto por todo o mundo, leis que visam proteger os dados pessoais começaram a ser promulgadas.

A precursora é a GDPR, na União Europeia, que vem a cada dia se tornando mais forte e respeitada.

No Brasil, temos hoje em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei nº 13.709/2018) que veio para determinar as “regras do jogo”.

Veja, não é novidade que os dados pessoais devem ser respeitados, pois a privacidade é um direito previsto na Constituição Federal, desde 1988. Não é novidade, também, que aquilo que falamos no consultório médico, por exemplo, possui sigilo e não pode ser divulgado. Isso também está previsto no Código de Ética médica.

Então é errado dizer que a LGPD veio garantir a proteção dos dados ou impedir que eles sejam tratado (coletados e processados) s pelas empresas, mas sim, de forma mais simples, veio estabelecer as regras do jogo.

As informações coletadas pelas empresas continuam podendo ser coletadas. Isso faz parte do desenvolvimento empresarial, repercute na economia.

E é por isso que entendemos que a LGPD não pode ser vista como uma inimiga da empresa ou que veio para atrapalhar. Pelo contrário. Sem ela, o abuso cometido com o tratamento dos dados seriam tanto, que os usuários simplesmente deixariam de fornecer seus dados às empresas, impedindo o desenvolvimento do próprio negócio, seja em sua prestação de serviço ou no fornecimento de insumos e produtos.”

Com a LGPD e respeito ao tratamento dos dados pessoais, é possível fazer tudo que é preciso para a empresa obter as informações, mas de um modo adequado, transparente, harmonioso e que permita, com qualidade e moraliadde, o desenvolvimento social e econômico.

Tenha acesso a mais conteúdos envolvendo questões relacionadas à proteção de dados e LGPD.

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